30 de mar. de 2008

ALPHONSUS DE GUIMARAENS - Soneto n° VI




PEDRO LUSO DE CARVALHO

ALPHONSUS DE GUIMARAENS era o pseudônimo usado por Afonso da Costa Guimarães, nascido em Ouro Preto, Minas Gerais, a 24 de julho de 1870. Passou a maior parte de sua vida em Mariana, nesse Estado, onde exerceu o cargo de Juiz, onde realizou sua obra e onde morreu, a 15 de julho de 1921.
Na cidade de Mariana o poeta tinha uma vida discreta, que lhe dava o sossego necessário para elaborar sua obra poética. A sua existência apagada, sem fortuna pessoal ou literária, no entanto, levou-o ao isolamento, condição não apropriada para dar conhecimento aos meios literários do que produzia. Daí ter sua poesia obtida a glória somente depois de sua morte.
Alphonsus de Guimaraens foi, ao lado de Cruz e Souza, o maior dos poetas simbolistas do nosso país. A sua contribuição ao Simbolismo, na época uma nova escola, foi a inspiração mística. Sobre o poeta, escreveu o grande crítico José Veríssimo:
Pela sua compostura, pela seriedade de sua vida, pela sinceridade de sua inspiração, pelas qualidades da sua arte, distingue-se desses rapazes, espirituosos e inteligentes alguns, outros sem nenhuma destas qualidades, para quem a arte é um divertimento frívolo, uma postura da Rua do Ouvidor, um meio de ter nome nas folhas e de se dar ares de gênio incompreendido.
Livros escritos por Alphonsus de Guimaraens: Centenário das Dores de Nossa Senhora e Câmara Ardente, Rio de Janeiro, 1899; Dona Mística, Rio de Janeiro, 1899; Kiriale, Pôrto, 1902; Mendigos, Ouro Preto, 1920; Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte, São Paulo, 1923 – entre outros. O Ministério da Educação publicou o volume Poesias, de Alphonsus Guimaraens, cuja edição foi dirigida e revista por Manuel Bandeira (Rio de Janeiro, 1938).
Segue o soneto n° VI, de Alphonsus de Guimaraens (In Alphonsus de Guimaraens / Gladstone Chaves de Melo. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1958, pg. 94):


SONETO N° VI
Alphonsus de Guimaraens


Ando em meio de flores e de sonhos,
Gorjeios de aves, aromais de lírios…
As açucenas gostam dos velhinhos,
Estrelejam de branco os seus martírios.

Lençóis de neve dos mais alvos linhos
Bem cedo amortalharam meus delírios…
Como sonho com o céu, pelos caminhos
Segue-me sempre a luz de quatro círios.

A sombra vespertina do desgosto
(Como descamba tristemente o dia!)
Vestiu de luto as linhas do meu rosto…

Não sei se longe ou perto surge o porto:
Sei que aos poucos me morro em calmaria,
Pois não há ondas mais neste Mar Morto…




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