24 de ago. de 2013

ANDRÉ MAUROIS – Sobre Machado de Assis


[ PEDRO LUSO DE CARVALHO ]

ANDRÉ MAUROIS, foi o nome pelo qual se tornou conhecido Émile Herzog, nascido em a 26 de julho de 1885, em Elbeuf, uma comuna no Seine-Maritime, ao norte da França, de uma família de industriais emigrados da Alsácia. Era filho de Ernest Herzog  e de Alice Lévy-Rueff Herzog.

Maurois foi autor de estudos profundos sobre a Inglaterra e sobre ingleses: Os silêncios do coronel Bramble, Disraeli, Byron. Autor de romances: Climats e Cercle de famille. Escreveu ensaios, estudos históricos e biografias literárias. Tornou-se célebre com as biografias: A la recherche de Marcel Poust, Lélia, Trois Dumas, Ariel ou a vida de Shelley, Olímpio ou a vida de Victor Hugo, Prometeu ou a vida de Balzac. Obteve grande êxito com a sua trilogia De Proust a Camus, De Gide a Sartre, De Aragon a Montherlant.

André Maurois também foi respeitado educador e um dos grandes humanistas do Século XX. Em 1938, foi eleito para assumir uma cadeira na Academia Francesa. Faleceu a 9 de outubro de 1967, em Nevilly, França.

Segue trecho do livro Diário de uma viagem pela América Latina, de André Maurois, no qual o escritor francês faz menção à visita que fez num domingo, do ano de 1949, no Rio de Janeiro, acompanhado pelo poeta Frederico Schmidt, à casa de Luísa Miguel Pereira, biógrafa do nosso escritor maior, Machado de Assis (In Maurois, André. Diário de uma viagem pela América Latina. Tradução de Sieni Maria Campos. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 31-33):



FALA SOBRE MACHADO DE ASSIS
[ ANDRÉ MAUROIS ]



Falamos de Machado de Assis – diz André Maurois –, surpreendente personagem, negro que foi o maior escritor do Brasil, fundador (há mais de cinquenta anos) da Academia Brasileira de Letras, discípulo de Sterne, humorista e estilista, funcionário público conformista e filósofo pessimista. O preconceito de cor aqui é tanto menos forte que muitos dos negros do Brasil chegavam das regiões mulçumanas da África e traziam uma sólida civilização.

         A família de Machado de Assis era pobre. Criança, por volta de 1850, entrou em contato com um padeiro francês, M. Gallor, cuja família ensinou-lhe francês. Logo dominou nossa língua – prossegue Maurois – e se tronou admirador de nossos escritores, de Lamartine em particular. Operário gráfico, depois revisor, escreveu versos, fez jornalismo e, aos vinte e dois anos, publicou seu primeiro livro. De suas obras – diz Maurois –, só li uma: Memórias Póstumas de Brás Cubas. Ele me fez pensar tanto em Sterne como em Anatole France, pela mistura de desespero, ironia e piedade.

Luísa Pereira – diz Maurois – me mostra um retrato de Machado de Assis. Barba cortada como a de Loubert, longos bigodes, olhos doces e tristes, monóculo. Tem ar de professor da Sobborne do Século XX. “Ele detestava a espécie e amava o indivíduo”, diz Luísa Pereira. Simétrico de Woodrow Wilson, que amava a humanidade e detestava os homens.



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REFERÊNCIAS:
PETIT LAROUSSE. Dictionnaire Encyclopédique pour tous. 24º tirage. Paris: Librairie Larousse, 1966.
MAUROIS, André. Diário de uma viagem pela América Latina. Tradução de Sieni Maria Campos. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 31-33.



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Pedro