21 de fev. de 2015

FRANCOISE SAGAN – Uma Entrevista



 – PEDRO LUSO DE CARVALHO

FRANÇOISE SAGAN nasceu a 21 de junho de 1935, na pequena localidade de Cajac, Departamento de Lot, na França, e foi registrada no cartório civil com o nome de Françoise Quoirez. O uso desse nome deveu-se à admiração que tinha pela Princesse de Sagan, que foi a escritora favorita de Proust.
Seu pai, engenheiro próspero (de origem espanhola), propiciou Françoise a possibilidade de ter uma educação de boa qualidade. Juntamente com uma irmã e um irmão, foi educada no bairro da classe média de Paris, que se limita com o Parc Monceau. Em 1952, após terminar seu curso numa escola de Paris, entrou para a Sobornne.
Em julho, depois de ter fracassado nos exames, no final do ano escolar, deu início ao seu romance Bon jour tristesse. Terminou o livro em fins de agosto, cuja publicação, pela conceituada Editions Juillard, deu-se em 1954. Com essa obra, ganhou o prêmio Prix des Critiques desse ano.
O sucesso do livro foi imediato; somente na França Bon jour tristesse vendeu mais de setecentos mil exemplares, e foi traduzido em quatorze idiomas. Em 1956, publicou Un certain sourire; no ano seguinte, deu-se a publicação de Dans um mois , dans un; em 1959, saiu Aimez-vous Bhams?, o quarto livro de Sagan.
Os dois primeiros romances de Françoise Sagan, Bon jour tristesse e Un certain sourire alcançaram a vendagem de dois milhões de exemplares, em pouco espaço de tempo, somente nos Estados Unidos. Nos anos que se seguiram a esses lançamentos, outros livros da escritora continuaram sendo lançados no mercado livreiro norte-americano. Esses dois livros e Aimez-vous Bhams? foram adaptados para o cinema; este último, foi protagonizado por Ingrid Bergman e Anthony Perkins.
Na primavera de 1957, a jovem escritora sofreu um acidente, quando dirigia o seu carro, e quase morreu. Os carros esportes eram o hobby de Sagan, e sempre exagerava na velocidade, o que chamava a atenção da imprensa europeia, que a criticava, como também o fazia com os seus escritos.
Escreveu, Françoise Sagan, além de romances e contos, versos líricos para  a cantora Juliette Greco, scripts cinematográficos e um comentário para uma coleção de fotografias da cidade de Nova York.
Principais obras de Francoise Sagan, publicadas no Brasil: (romance) O guardador de meus amores (Le garde du coeur), Record, 1972; Cicatrizes na alma, (Des bleus à lâme) Record, 1974; Um perfil perdido, (Un profil perdu), Record, 1974; A cama desfeita (Le lit défait), Nova Fronteira, 1977; Tempestade sem bonança (Un orage immobile), Record, 1983; (conto) Olhos de seda (Des yeux soie), Record, 1975; (teatro) O vestido lilás de Valentine (La robe mauve de Valentine), Difusão Europeia do Livro, 1965.
Françoise Sagan recebeu Blair Fuller e Robert Silvers, da The Paris Review, num pequeno e moderno apartamento de sua propriedade, na Rue de Grenelle, em Paris, onde morava (naquela época a escritora trabalhava sozinha, no campo, fora da cidade). A entrevista deu-se em princípios da primavera de 1956, um pouco antes da publicação de Un certain sourire.
Da entrevista, que fizeram Blair Fuller e Robert Silvers, da The Paris Review, selecionamos alguns trechos, que consideramos mais importantes, como segue:
ENTREVITADORES: Como foi que começou a escrever Bon jour tristesse, quando tinha apenas 18 anos? Esperava que fosse publicado?:
SAGAN: Pus-me simplesmente a escrever. Tinha vivo desejo de escrever e algum tempo livre. Disse, comigo mesma:”Esta é a espécie de empresa que poucas, pouquíssimas garotas da minha idade se entregam; jamais serei capaz de terminá-la.” Eu não estava pensando em “literatura” e problemas literários, mas a respeito de mim mesma, e se teria a força necessária.
ENTREVITADORES: A senhorita diz que o importante, no começo, é ter um personagem?
SAGAN: Um personagem, ou uns poucos personagens, e talvez uma ideia para as cenas da metade do livro, mas tudo isso se modifica enquanto a gente escreve. Para mim, escrever é uma questão de encontrar certo ritmo. Comparo-o ao ritmo do jazz. A maior parte do tempo, a vida é uma espécie de progressão rítmica de três personagens. Se a gente diz a si próprio que a vida é assim, sente-se que a coisa é menos arbitrária.
ENTREVITADORES: Seus personagens permanecem em sua mente, depois de terminado o livro? Que espécie de juízo faz a respeito deles?
SAGAN: Quando o livro está terminado perco imediatamente interesse pelos personagens. E jamais faço juízos morais. Só o que eu diria é que uma pessoa era engraçada, ou alegre, ou, sobretudo, uma chata. Formar juízos a favor ou contra meus personagens, enfastia-me grandemente, não me interessa de modo algum. A única moralidade para um romancista é moralidade de sua estética. Eu escrevo os livros, eles chegam a um final – e isso é tudo o que me interessa.
ENTREVITADORES: Acaso aprendeu algo com as críticas publicadas a respeito do livro? (Menção que os entrevistadores fazem a Bon jour tristesse.)
SAGAN: Quando os artigos eram agradáveis, eu os lia do começo ao fim. Jamais aprendi coisa alguma com eles, mas ficava perplexa diante de sua imaginação e fecundidade. Viam, no livro, intenções que jamais tive.
ENTREVITADORES: Como se sente agora com Bon jour tristesse ?
SAGAN: Gosto mais de Un certain sourire, porque foi mais difícil. Mas acho Bon jour tristesse divertido, pois recorda certa fase de minha vida. E eu não mudaria uma única palavra. O que está feito, está feito.
ENTREVITADORES: Quais os escritores franceses que admira e acha que são importantes?
SAGAN: Oh, não sei. Stendhal e Proust, por certo. Amo o mistério de suas narrativas e, de certa maneira, sinto, positivamente, necessidade deles. Depois de Proust,  por exemplo, há certas coisas que, simplesmente, não se pode tornar a fazer. Ele marca para a gente os limites do nosso talento. Mostra-nos as possibilidades que residem na maneira de se tratar um personagem.
 ENTREVITADORES: Até que ponto reconhece suas limitações e controla suas ambições?
SAGAN: Bem, essa é uma indagação bastante desagradável, não é? Reconheço limitações no sentido em que li Tolstoi, Dostoievski e Shakespeare. Eis aí a melhor resposta, penso eu. À parte isso, não penso em limitar-me.
ENTREVITADORES: A senhorita ganhou, rapidamente, muito dinheiro. Isso modificou sua vida? Faz, acaso, alguma distinção entre escrever novelas por dinheiro e escrever seriamente, como certos americanos e franceses?
SAGAN: O êxito dos meus livros, certamente, modificou um tanto minha vida, pois disponho de muito dinheiro para gastar, se quiser, mas, quanto ao que se refere à minha situação na vida, não mudou muito. Hoje tenho um automóvel, mas sempre comi filés. Os senhores sabem: ter-se uma porção de dinheiro no bolso é bom, mas não é tudo. A perspectiva de ganhar mais ou menos dinheiro jamais afetaria minha maneira de escrever; eu escrevo os livros e se, depois, o dinheiro aparecer, tant mieux.
Esses foram alguns trechos da entrevista que Françoise Sagan concedeu à The Paris Review, depois que, ainda muito jovem, obteve grande sucesso com seus romances Bon jour tristesse e Un certain sourire.
A escritora francesa, Françoise Sagan, faleceu em Honfleur, a 24 de setembro de 2004, aos 69 anos de idade.
[Para conhecer um pouco da história da famosa revista THE PARIS REVIEW, clicar aqui.]


REFERÊNCIA:
COWLEY, Malcolm.The Paris Reviev/Escritores em ação. Tradução de Brenno Silveira. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.


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4 comentários:

  1. Uma entrevista muito interessante, com a curiosidade de ter sido dada no ano do meu nascimento.

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    1. Agradeço-lhe, Francisco Manoel, pela visita. Interessante coincidência a data de seu nascimento com a entrevista de Françoise Sagan.
      Um abraço.

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  2. Boa tarde Pedro Luso
    Entrevista bastante interessante e muito bem elaborada!
    Bom fim de semana
    Beijinho

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    1. Também desejo a você um bom fim de semana.
      Obrigado, Maria, pela visita.
      Um abraço.

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Obrigado a todos os amigos leitores.
Pedro