12 de abr. de 2016

[Poesia] PABLO NERUDA – Saudade



– PEDRO LUSO DE CARVALHO

PABLO NERUDA é o nome do poeta que se tornou mundialmente conhecido. O nome do cidadão chileno é outro: Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basoalto. Vê-se que foi providencial a escolha do pseudônimo.
O poeta nasceu em 1904, em Parral, uma pequena cidade do Chile. Ainda jovem, mudou-se para a capital, Santiago, uma das cidades mais evoluídas da América do Sul. Foi em Santiago que publicou Vinte poemas de amor e uma canção desesperada. Com esse livro, tornou-se conhecido mundialmente.
Com a idade de 23 anos o poeta entrou na carreira diplomática. Foi cônsul na Ásia, Argentina e Espanha (durante a Guerra Civil). Também se aventurou na carreira política, em 1945, eleição conquistada para o Senado. Mas logo teve cassado o seu mandato, por ter-se filiado ao comunismo.
Em 1971 recebeu o Premio Nobel de Literatura. Faleceu em Santiago, em 1973, acometido de câncer, oito dias após o golpe militar, que daria a conhecer, mundialmente, nome de outro chileno, este um tirano: Augusto Pinochet.  
Segue o poema de Pablo Neruda, Saudade (in Pablo Neruda. Crepusculário. Tradução de José Eduardo Degrazia. Porto Alegre: L&PM, 2004, 99):

SAUDADE
– PABLO NERUDA


SAUDADE... – Que será... eu não sei... tenho buscado
em certos dicionários poeirentos e antigos
e outros livros que ocultam o significado
dessa doce palavra de perfis ambíguos.

Dizem que as montanhas são azuis como ela,
que nela empalidecem longínquos amores,
e um nobre e bom amigo meu (e das estrelas)
nomeia com os cílios e as mãos em tremores.

E no Eça de Queirós sem olhar a adivinho,
o segredo se evade em sua doçura e sede,
como essa mariposa, corpo em desalinho,
sempre longe – tão longe! – de minhas calmas redes.

Saudade... tens, vizinho, o real significado
dessa palavra branca e que, peixe, se evade?
Não... treme na boca seu temor delicado...
Saudade...




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