17 de nov. de 2012

WERNECK SODRÉ – A Música Brasileira - Parte IV




         por Pedro Luso de Carvalho
    
                
             Nesta quarta parte de A Música Brasileira será feita a abordagem da Bossa nova, gênero musical, que não tardaria a ser considerado de nível internacional, e que surgiu para defender a nossa música popular, como disse Nelson Werneck Sodré (in, Síntese de História e Cultura Brasileira, no seu capítulo Música. Civilização Brasileira, 9ª ed., Rio de Janeiro, 1981, p. 100).
 
 O escritor fala sobre a interferência dos meios de comunicação, rádio e televisão, para a divulgação de nossa música popular, e da influência desses veículos até mesmo nas criações artísticas.

Werneck Sodré não se posiciona contra a toda a música que chega do exterior, desde que ao Brasil venha um pouco do melhor da música de outros países. Mas o que constata é que a música que importamos é a música de massa, que representa prejuízo para o público, que consome arte musical de baixa qualidade, mas também para os nossos verdadeiros músicos e compositores.



CULTURA NACIONAL - MÚSICA (4ª parte)
                                (Nelson Werneck Sodré)


 Esses meios, servindo a interesses estrangeiros, serviam, no plano musical, à música estrangeira. (...) Nossa música, assim, ia, pouco a pouco, sendo alijada até mesmo das preferências populares, intensamente trabalhadas pela continuada repetição do que era imposto e divulgado em massa.

Impostas às massas pelos meios, técnicas, instrumentos de cultura de massa. Foi em defesa de nossa música popular, segundo certos críticos, que surgiu a chamada Bossa nova: A Bossa nova, produzindo quase sempre uma música de nível internacional, rivalizando em qualidade com o que de melhor se fazia na época e em qualquer lugar, levou a imagem de um Brasil diferente, não mais aquele ingênuo e caipira dos salamaleques de Carmem Miranda, mas o de uma nação em que o processo de industrialização começa a acordar o povo para a sua real condição.

O primeiro argumento a comprovar esta constatação é o de que a música, como fenômeno cultural e de superestrutura, acompanha as modificações de baixo para cima. Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lyra, Sérgio Mendes, Donato, Marcos e Paulo Sérgio Vale, o Bossa Três e tantos outros, conseguiram isso: a Bossa nova cortou fundo na receptividade do americano médio e resistiu a avalancha de contrafações acionada pela alavanca do sistema de massas dos EUA.

 Surgido entre fins de 1959-1960 com os compositores João Gilberto e Antônio Carlos Jobim – principais precursores – o processo de estruturação rítmico-harmônico da Bossa nova, apesar das concessões feitas diante das preferencias artísticas e musicais norte-americanas, trouxe indiscutível benefício para renovação do nosso ambiente musical e contribuição no sentido da preservação do prestígio e da justa evidencia da música popular brasileira. Essa nova manifestação artística nacional possibilitou, em tempo recorde, a internacionalização do samba em sua roupagem moderna, embora tal benefício, de condição temporária, não implique em definitiva permanência no exterior. (Nelson Werneck Sodré diz que Claribalte Passos tem a mesma opinião que a sua.)

Aqui termino esta parte do texto sobre Bossa nova, que integra o trabalho A Música Brasileira, agora na sua quarta parte. Na quinta parte deste trabalho, continuarei mostrando como Nelson Werneck Sodré vê esse gênero musical, que, como diz, veio salvar a nossa música popular. (Para acessar a primeira parte deste trabalho, clique em A Música Brasileira - Parte I.)


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8 comentários:

  1. Um excelente trabalho na explicação sobre a
    Bossa Nova.
    Um abraço
    Irene Alves

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    1. Irene,

      Obrigado por sua visita e pelo seu estímulo. Espero que volte mais vezes.

      Abraços,
      Pedro.

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  2. Pedro, nosso país é riquíssimo em talentos que, infelizmente, por massificação da ARTE, acabam por serem pouco difundidos.
    Mas quem sabe e gosta do que é bom sempre sai a procura.
    Uma vez, quando fazia um curso sobre ARTE, agarramos numa discussão calorosa sobre os gostos de cada um por todos os focos de ARTE e eu cheguei a seguinte conclusão - o gosto vem da alma. Almas evoluídas não se sucumbem a ideologias nem a pacotes sem valores desta ARTE FAST...
    Quem tem uma nobreza, independente de classe social, sempre vai à procura daquilo que lhe toca e que de fato é BOM...
    Um grande abraço.
    Admiro teu trabalho de pesquisa e conhecimento.

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  3. Malu,

    É sempre motivo de satisfação quando você aparece por aqui. Este espaço fica enriquecido com sua presença e com seus comentários, como este, que você fala com sabedoria sobre a ARTE, e diz que "gosto vem da alma".

    Abraços,
    Pedro.

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  4. Aqui estou de novo Pedro para agradecer sua visita ao meu blogue
    e para lhe dizer, que infelizmente o Governo que temos neste momento
    em Portugal é extremamente frio e indiferente ao sofrimento das pessoas.
    Para 2013 vai ser pior que em 2012.A Europa está a destruir-se...
    e eu não sei o que por aí virá, mas não é nada de bom.
    Gostei do que a Malu disse"gosto vem da alma".
    Eu também penso assim.
    O seu blogue ajuda a aprender, e eu considero muito útil essa função.
    Um beijinho
    Irene Alves
    Ah, tenho outro blogue que se o quiser visitar, http://sinfoniaesol.
    wordpress.com

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    1. Irene,

      É sempre uma honra recebê-la aqui neste espaço.

      Quanto aos problemas pelos quais passa Portugal, sua situação econômica, social e política, tenho algum conhecimento através da imprensa e TV SIC. Mesmo com todos os problemas que o país está enfrentando, não pode perder a esperança. Nós brasileiros também já passamos por isso, e hoje estamos bem melhor.

      Eu também gostei do que disse a Malu sobre o "gosto vem da alma".

      Um bom fim de semana, Irene.

      Abraços,
      Pedro.

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  5. Monique21:29

    Olá.
    Conheci hoje esse espaço por acaso e adorei. Há tempos esperava encontrar algo assim. Parabéns pelo blog, muito bom!
    E só para deixar minha contribuição, eu concordo plenamente com o que a Malu disse. Na verdade o que me entristece um pouco é que essa 'cultura' que é o que está sendo apresentada diariamente, principalmente aos mais jovens, acabe se tornando uma totalidade quando se diz respeito ao conhecimento do que se tem. Digo isso por experiência própria, tenho 17 anos e a grande parte das pessoas que conheço dessa faixa etária acaba sendo 'engolida' pela cultura que na verdade é, de certo modo, imposta pelos meios de comunicação que acabam valorizando o que lhes convém.
    Abraço.

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    1. Obrigado, Monique, tanto pela visita como pelo seu comentário. Em resposta a Malu, eu também concordei com o que ela disse acima.

      Depois desse seu comentário a gente vê que nem tudo está perdido, em matéria de cultura. A crítica que você faz, por nossos jovens darem pouca importância à cultura, tendo apenas 17 anos, como você tem, dá-nos alguma esperança de que a situação possa melhorar.

      Parabéns Monique.

      Abraços,
      Pedro.

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Obrigado a todos os amigos leitores.
Pedro