22 de jan. de 2016

[Conto] PEDRO LUSO – À espera de seu algoz

    
 À ESPERA DE SEU ALGOZ
PEDRO LUSO DE CARVALHO

É noite chuvosa. No quarto, às escuras, Mariana olha absorta através da janela. As luzes da rua clareiam parte da cama, em desalinho, e alguns livros sobre o velho baú. Debruça-se no parapeito da janela. Na calçada, escondido entre ramos de árvores, o grande relógio, com seus ponteiros duplicados pelos efeitos das sombras. Mariana assusta-se ao ver que já passam das dez. Ali permanece por algumas horas. Paralisa-a um pressentimento: Orestes irá cumprir a ameaça que fez. Logo o medo tira-lhe das pernas a força. Respira com dificuldade. O coração de Mariana agora bate em descompasso. Está ansiosa para que tudo termine. Conta minutos e segundos. Na rua, o silêncio somente é quebrado pelo ruído de algum carro, que passa sobre o asfalto molhado. Mariana sente-se tonta e cai. No chão, segura os joelhos e os levam próximos ao rosto. É o refúgio que busca. Depois, ouve seca batida na porta. Novamente o silêncio. Não demora a ouvir o ranger da porta. Na fechadura, o barulho da chave. A porta é trancada por dentro. No assoalho, um leve barulho  de passos. O ritmo dos passos está mais próximo, e logo cessa  à sua frente. Mariana está ainda no chão, encolhida sobre assoalho. Está assustada com o silêncio que se alarga. De repente uma lâmina zune no escuro do quarto, e o silêncio é quebrado por um grunhido de ave ferida.


       *  *  *